segunda-feira, 18 de abril de 2011

Droga mais devastadora e barata que o crack já circula na região

Primeira apreensão do entorpecente no Paraná foi realizada nessa semana em Laranjeiras do Sul

Cascavel - Profissionais que trabalham na recuperação de dependentes químicos, prevenção ao uso de drogas e combate ao tráfico desses produtos estão preocupados com o surgimento de novas drogas em Cascavel e região. A atenção dos especialistas se volta para o oxi e o paco, muito mais fortes e devastadores que o crack, porém, bem mais baratos.

A prova de que ao menos um desses entorpecentes já chegou à região ocorreu nessa semana. A primeira apreensão de paco no Paraná foi realizada em Laranjeiras do Sul em abordagem das Polícias Rodoviária Federal e Civil, na BR-277. Ainda não há histórico policial de apreensão de oxi no Estado, nem no Brasil, segundo a Polícia Federal. No entanto, a própria polícia tem dificuldade em identificá-lo devido a sua extrema semelhança com o crack.

De acordo a polícia, as duas drogas são subprodutos do crack, que por sua vez é derivado da cocaína. A diferença entre elas é que no oxi são adicionados cal virgem e querosene, por isso ele é mais claro que o paco, que tem tonalidade marrom e leva em sua composição ácido bórico, xilocaína e benzina ou éter.

O presidente do Comad (Conselho Municipal Antidrogas) de Cascavel, Eugê nio Rossetti Filho, diz que relatos de dependentes químicos apontam a presença dessas drogas na cidade. “Eles comentam que já experimentaram um crack estranho que teria gosto de querosene e efeito potencializado, tanto que não gostaram porque passaram mal. Preocupa-nos muito se essas drogas já estão aqui, pois elas são ainda mais devastadoras que o crack na dependência e destroi o usuário em menor tempo”, lamenta.

RELATO PESSOAL
Um jovem de 20 anos que está em recuperação numa clínica de Cascavel relata que conheceu o oxi no Rio de Janeiro há oito meses. “Um amigo trouxe dos Estados Unidos, usei uma vez e posso dizer que o efeito é muito forte, pensei que fosse desmaiar. Se essa droga chegar às ruas vai destruir muito mais gente e bem mais rápido que o crack”, comenta.
Outros rapazes internados dizem que não conheceram as novas drogas, mas que o comentário é que elas circulam nas ruas de Cascavel. “Eu diria para ninguém experimentar, pois, se o crack é terrível, imagina essas que são mais fortes”, observou um deles.

“Estou há oito anos tentando me livrar do crack, já passei por oito internações, perdi meu pai, a confiança da família e dos amigos, bens materiais, fui morar na rua e acabei preso. Tudo que eu não queria para minha vida e jamais pensei que fosse passar o crack me proporcionou”, conta outro ex-usuário.

Custo mais acessível preocupa
Outro fato que deixa os especialistas extremamente preocupados é o preço dessas novas drogas, o que torna o acesso mais fácil. Não existem dados oficiais sobre o custo, mas, segundo fontes, a pedra do oxi é vendida entre R$ 2 e R$ 3 e a porção do paco na Argentina, onde surgiu há dez anos, custaria 10% o valor do crack, aproximadamente R$ 1.

O investigador palestrante do Cape (Centro Antitóxicos de Prevenção e Educação) do Denarc (Divisão de Narcóticos) da Polícia Civil, Nelson Venâncio, destaca que ainda não é possível afirmar quanto essas drogas estão custando, pois não há depoimentos de usuários ou traficantes.

“O que temos certeza é a respeito do preço do paco na Argentina, muito menor que o do crack, mas informações dão conta de que o oxi também seria muito mais acessível. Porém, discordo dessa concepção que são drogas baratas. O crack custa tudo que a pessoa tem, não apenas os bens materiais, mas também a saúde, a família, a vida. Não há dinheiro que dê suporte para o uso de crack, chega um momento em que o usuário precisa roubar, furtar, vender o corpo”, observa.

Na apreensão de paco realizada em Laranjeiras do Sul, os jovens, construtores civis, que levavam o produto de Foz do Iguaçu para distribuir em festas de Curitiba e Florianópolis não revelaram quanto pagaram pela droga, apenas que foi bem acessível. “Essa apreensão chegou a ser divulgada como sendo de cristal, uma meta-anfetamina, mas os reagentes foram positivos para os componentes derivados da cocaína, como o crack, e, pela aparência da droga, consideramos se tratar do paco. Esse entorpencente nos preocupa, pois vem da Argentina, bem próxima de nós, já o oxi circula mais no Acre”, destaca o policial.

Os 60 gramas de paco retidos na BR-277 poderiam ser distribuídos a aproximadamente 200 pessoas.


Venâncio revela que houve no Paraná apreensão de um dos componentes do paco, o ácido bórico. “O receio de que essa droga venha para cá é muito grande, porém, pela ganância dos traficantes, acredito que não viria, devido ao preço ser menor que o do crack, que já possui um mercado certo”, avalia.

Os efeitos das novas drogas
O oxi e o paco também são fumados em cachimbos e, como no crack, em poucos segundos as substâncias são absorvidas pelos pulmões e enviadas ao coração e ao cérebro, atingindo muito rapidamente no sistema nervoso central. O efeito também é momentâneo: em torno de cinco minutos, o que leva o usuário a fumar mais para repetir a sensação.

O palestrante Nelson Venâncio, do Denarc, acrescenta que o potencial do paco em relação ao aprisionamento, à dependência e ao estrago no usuário é muito maior que o do crack. “As reações são muito parecidas com as do crack, no entanto, mais danosas. Em bem menos tempo que o do uso do crack o usuário vai parar tudo que faz na vida para tãosomente se dedicar ao consumo do paco a ponto de usar na frente dos pais”, esclarece.

Segundo o policial, a grande quantidade de xilocaína (anestésico) presente no paco leva a queimaduras nos lábios porque a substância amortece a região da boca e o cachimbo acaba queimando o local sem que os usuários sintam.


Durante a Operação Bloqueio realizada pela equipe do Pelotão de Choque e Canil, na Avenida Tancredo Neves, próximo ao Bairro Guarujá, foram apreendidos cinco 6,5 quilos de crack e 15 quilos de maconha. Seis pessoas foram encaminhadas à Delegacia da Polícia Civil. Por volta das 22h de sexta-feira Mauro Pinto dos Santos, 48, foi preso com cinco quilos de crack que estavam em sua bagagem. Ele estava em um ônibus com itinerário Foz do Iguaçu-Goiânia. Em outro ônibus foram apreendidos 1,5 quilo de crack com duas mulheres em um ônibus de linha.

Foto 01 - Lorena Manarin
Fotos 02 - Vanderlei Faria
Fonte: Jornal O Paraná - Matéria do dia 17-04-2011.
http://www.oparana.com.br/

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