quarta-feira, 20 de abril de 2011

Filho do crack’ pode infartar ainda bebê

Recém-nascidos gerados por dependentes químicas correm o risco de tornarem-se viciados ainda dentro da barriga da mãe


A 2a geração de vítimas do crack já é acolhida nos braços de obstetras e pediatras de todo o país. São filhos de mães viciadas que não recebem o ‘alimento’ suficiente na placenta. Apresentam deficiências que podem comprometer a vida fora do útero. Os comprometimentos vão desde baixo peso até o risco de infarto e deficiência mental. Sem contar que muitos fetos ficam viciados durante a gestação e após o nascimento sofrem com a abstinência da droga.

Das 150 novas gestantes atendidas a cada mês no hospital escola da Unesp de Botucatu, duas por semana estão sendo identificados como usuárias de drogas, explica o psiquiatra e professor Ricardo Cezar Torresan. “É uma porcentagem baixa. Aqui ainda não temos dados conclusivos, estamos montando um grupo de profissionais para levantar os números. Há comentários de que 9% das gestantes são usuárias de drogas.”

Em Bauru, dos 300 partos realizados por mês na Maternidade Santa Isabel, cerca de 5% são de jovens mães usuárias de drogas, observa o ginecologista e obstetra Sérgio Henrique Antônio. “Temos observado que essas crianças nascem fora do peso, mesmo quando o nascimento não é de prematuro.”

Os comprometimentos ainda estão em estudos, até porque o uso do crack no Brasil ganhou dimensão nos últimos 10 anos, alerta o professor. “No Brasil, os primeiros relatos do crack ocorreram em 1990, mas foi entre 2003 e 2005 que ganhou espaço entre os jovens. Hoje, atinge todas as classes sociais e idades. Há mais estudos com o álcool. Os dados sobre o crack são mais estrangeiros. Sabemos que os problemas mais graves ocorrem no pós nascimento.”

As complicações dependem do tipo de usuário. Há mulheres que fazem uso constante da droga e outras, com algum espaço de tempo. Há ainda outros fatores que podem interferir na gestação e que estão em estudos. O certo é que o crack não tem uma síndrome típica, como o álcool, explica a neonatologista, Saskia Fekete da Unesp de Botucatu.

“Uma coisa importante é que no crack não tem nenhuma síndrome típica, diferentemente do álcool. Sabemos exatamente que tipo de mal formação que dá quando a mãe é alcoólatra. Com o crack os comprometimentos são muito variáveis. Não só por ser uma droga resultado de mistura, mas também porque nem sempre ele tem a mesma ação no organismo. Ele não tem uma ação que dá sempre o mesmo tipo de malformação.”

Torresan ressalta que é possível um bebê, filho de mãe drogada sofrer um infarto. O que inaugura uma nova tendência para o qual a medicina deve ficar atenta, embora não seja uma situação frequente e comum. “A alimentação do feto é feita através da placenta. A mãe que usa crack faz com que a vascularização fique comprometida”.

A neonatologista explica porque o infarto pode ocorrer na fase infantil. “ O crack é uma droga vasoconstritora. Pouco sangue é sinônimo de pouco oxigênio para o tecido cardíaco do organismo em formação. O infarto é uma diminuição de oxigênio no tecido cardíaco. O bebê pode nascer com essa deficiência cardíaca e infartar. Não é um caso frequente, mas pode ocorrer.”

Bebês podem sofrer com abstinência


É pela placenta que o feto se comunica com o corpo da mãe. Usuárias crônicas de crack tornam os fetos também ‘viciados’. Após o nascimento, esses bebês sofrem com a abstinência da droga. O psiquiatra Ricardo Torresan, percebe que são crianças mais irritadas, choram muito e demoram a se adaptar ao ambiente.

“Mulheres que fizeram uso até final da gravidez podem fazer o bebê sofrer de abstinência. É um quadro típico da falta de droga. É possível encontrar uma criança mais irritada. Têm relatos de bebês nascendo com esse tipo de comportamento.”

A neonatologista Saskia Fekete comenta que a síndrome da abstinência do crack não é um fator muito importante diante dos demais problemas, até porque o crack não é um narcótico e sim estimulante. “O bebê pode sofrer um pouco de abstinência e tremores, mas não é um problema comum.”

O médico alerta ainda que filhos de usuários de drogas têm propensão maior de desenvolver a dependência. “É claro que tem fator genético. Não é só isso que determina. Há casos de filhos de usuários que nunca usaram drogas e nem vão usar. Mas há mais usuários entre os filhos deles em comparação com os filhos de pessoas que não têm dependência.”

Fonte: CJnet

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