quarta-feira, 28 de março de 2012

Países gastarão US$ 7 tri com doenças ligadas ao fumo

Países de renda baixa e média terão gasto de US$ 7 trilhões entre 2010 e 2025 com doenças crônicas não-transmissíveis, cujo principal fator de risco prevenível é o tabaco, se tudo continuar como está, alerta a declaração da 15ª Conferência Mundial sobre Tabaco ou Saúde, finalizada neste sábado em Cingapura. 

O texto destaca os esforços da indústria tabagista contra as políticas nacionais de restrição ao fumo e recomenda medidas a serem adotadas pelo conjunto dos países.

Até 2015, quando a próxima conferência será realizada, espera-se que pelo menos 50 países acabem com fumo em ambientes fechados e com fumódromos, e que pelo menos 20 adotem as controversas embalagens de cigarro sem logomarca trazendo apenas alertas de saúde e nome, de forma padronizada.

A embalagem padrão foi um dos temas mais debatidos. A Austrália, primeiro país a implementar o modelo, no final deste ano, enfrentará questionamentos da indústria em esfera internacional.

O documento ainda recomenda que os países incluam cláusulas de saúde pública nos tratados comerciais, de forma a evitar que esses acordos atrapalhem a adoção de medidas restritivas ao fumo.

Documento paralelo elaborado por organizações da sociedade civil da América Latina e Caribe pede que o Brasil avance na regulamentação da lei que proibiu os fumódromos, no final do ano passado.


Fonte: ABEAD (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)
Fonte: Folha de São PAulo e www.antidrogas.com.br

sexta-feira, 16 de março de 2012

A maior apreensão de crack já registrada no Paraná


Policiais civis da Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc) e do Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) de Cascavel realizaram nesta quarta-feira (14) a maior apreensão de crack já feita pela Polícia Civil no Paraná. Foram apreendidos 128 quilos da droga, além de oito quilos de cocaína, armas e munições de vários calibres, que estavam escondidos em uma carga de soja de um caminhão que trafegava pela BR-277, com destino a Paranaguá.

Segundo a polícia, cada quilo de crack poderia gerar seis mil pedras. Assim, o montante apreendido poderia produzir 770 mil pedras que, comercializadas a um preço médio de R$ 10, poderiam representar um lucro de cerca R$ 7 milhões aos traficantes. A cocaína renderia mais R$ 80 mil. A Polícia Civil acredita que a quantia serviria para financiar as quadrilhas e assim potencializar os crimes de homicídios, roubos e furtos relacionados ao tráfico de drogas.

Para se ter uma ideia da dimensão dessa apreensão, basta dizer que durante os doze meses de 2011 foram apreendidos pela Denarc 360 quilos de crack. O secretário de Estado da Segurança Pública, Reinaldo de Almeida Cesar, disse que a operação é um reflexo da firmeza do Governo do Estado no combate ao tráfico de drogas. “O governador Beto Richa determinou à secretaria, à Polícia Civil e ao Denarc todo o esforço e empenho na repressão ao tráfico de drogas, que representa um flagelo representa para toda a sociedade. A determinação do governador é para que nós não poupemos esforços para combater, sem trégua, o tráfico de drogas”, afirmou.

O delegado-geral Marcus Vinícius Michelotto disse que a apreensão desta quarta-feira resulta de um intenso trabalho de investigação para identificar e prender quadrilhas de traficantes em ação no Estado. “Foi um grande golpe contra o tráfico de drogas. Um excepcional trabalho profissional da Polícia Civil do Paraná, por meio do núcleo da Denarc em Cascavel. A ação mostra que a Polícia Civil está preparada para combater tanto o grande traficante quanto o pequeno, que age no varejo”, disse.

A OPERAÇÃO – O caminhão que transportava o material foi apreendido por volta das 6 horas de quarta-feira, em Laranjeiras do Sul, no Sudoeste do Paraná. Além dos entorpecentes, a polícia encontrou na carroceria do caminhão duas pistolas calibre 45, 222 munições calibre 45 e mais 50 munições calibre 38 especial.

O motorista do caminhão Scania com placas do Paraná, Valdinei da Silva Dainese, de 27 anos, foi autuado em flagrante pelos crimes de tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. Após prestar depoimento, foi encaminhado ao Setor de Carceragem Provisória da 2ª Subdivisão Policial de Laranjeiras do Sul, onde ficará à disposição da Justiça.

Para abordar o caminhão, os policiais da Denarc contaram com o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Durante a revista no veículo, os policiais notaram que o motorista demonstrou um nervosismo foram do comum e, ao ser questionado, apresentou divergências nas informações. Foi então que os policiais da Denarc conduziram o caminhão à cidade de Cascavel, onde foi realizada uma busca minuciosa, que culminou com a apreensão das drogas, armas e munições. Indícios apontam que a droga apreendida abasteceria a cidade de Curitiba e Região Metropolitana.

Os delegados da Denarc de Cascavel, Ana Cristina Ferreira Silva e Carlos Daniel Reis, afirmam que operações dessa natureza são necessárias e estão sendo realizadas em toda a região para evitar que as drogas cheguem aos usuários em cidades do Paraná. O delegado-chefe da Denarc, Riad Braga Farhat, reafirmou que o combate ao tráfico de drogas é uma das principais metas do programa Paraná Seguro e que a experiência dos policiais tem impedido que a artimanha dos traficantes, ao dissimular o transporte da droga, tenha resultado. As investigações continuam para apurar a procedência das drogas, armas e munições.

BALANÇO – O balanço das ações da Denarc no ano de 2011 mostra que foram apreendidos 2.765,60 quilos de maconha, 62,41 quilos de haxixe, 245,99 quilos de cocaína e 360,85 quilos de crack, totalizando quase 3,5 toneladas de drogas.

No mesmo período foram apreendidos 76 veículos, 893 munições, 49 armas, 238 comprimidos de ecstasy e 158 pontos de LSD. Em 2011, a Denarc também prendeu 336 pessoas por envolvimento com o tráfico de drogas.

quinta-feira, 15 de março de 2012

DENARC E NURCE DE CASCAVEL REALIZARAM A MAIOR APREENSÃO DE CRACK DA HISTORIA NO PARANÁ.

Policiais civis da Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc) e do Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) de Cascavel fizeram nesta quarta-feira (14) a maior apreensão de crack já registrada no Paraná. Foram apreendidos 128 quilos da droga, oito quilos de cocaína, além de armas e munições de vários calibres, escondidos em uma carga de soja de um caminhão que trafegava pela BR-277, com destino a Paranaguá.

Segundo a polícia, cada quilo de crack apreendido poderia gerar seis mil pedras que, comercializadas a um preço médio de R$ 10, representariam um lucro de cerca R$ 6 milhões aos traficantes. A cocaína renderia outros R$ 80 mil. Para se ter um comparativo, em 2011 foram apreendidos pela Denarc 360 quilos de crack. A Polícia Civil estima que a quantia serviria para financiar as quadrilhas e assim potencializar os crimes de homicídios, roubos e furtos, relacionados ao tráfico de drogas. 

O secretário da Segurança Pública, Reinaldo de Almeida Cesar, o delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Vinícius Michelotto e Riad Fahad, chefe do Departamento Estadual de Narcóticos (Denarc), dão entrevista coletiva nesta quinta-feira (15), às 14 horas, em Cascavel, para falar sobre a apreensão. 




Fonte: CATVE

segunda-feira, 5 de março de 2012

Ex-traficante usa dificuldades pessoais para ajudar os outros no tratamento de vícios

O norte-americano Antonio Lambert, um ex-presidiário que venceu sua batalha contra o vício das drogas e da violência, e, agora, auxilia pessoas na mesma situação
O gosto da cocaína e a sensação de câmera lenta de burlar a lei eram bem familiares, mas a diversão tinha acabado fazia tempo. Antonio Lambert não era mais um jovem de gangue, mas um homem de família com uma carreira, e lá estava ele no último outono, alto como qualquer usuário das ruas, entrando no seu escritório escondido às nove da noite, procurando – o que, exatamente? Ele não sabia ao certo.
Ele saiu do prédio levando alguns celulares (que jogou fora) e uma sensação de que estava escorregando, caindo de novo dentro de um buraco. Ele andou na escuridão, andou sem destino, e então começou a fazer o que ensinou a outros em circunstâncias
emelhantes: parar, enfrentar o problema, e se reerguer.
"Eu comecei a falar comigo mesmo, em voz alta: esta é uma das minhas estratégias para lidar com isso, e um dos motivos pelos quais eu recaí foi que eu esqueci de usá-la", disse Lambert, 41, educador em saúde mental que tem um diagnóstico de distúrbio de humor e drogadicção, um dos mais assustadores da psiquiatria.

Ele mandou uma mensagem de texto para um amigo, alguém que conhecia sua história e poderia ajudá-lo a sair daquela situação. E deu entrada num hospital.
"Eu sei quando é hora de buscar ajuda."
O sistema de saúde mental há muito tempo usa pares (pessoas que passaram pela mesma situação) como conselheiros e esta prática tem sido controversa, em parte porque os médicos e assistentes sociais questionaram sua eficácia. Mas pesquisas recentes sugerem que o apoio de pessoas na mesma situação pode reduzir os custos, e em 2007, funcionários federais de saúde determinaram que os estados poderiam cobrar por esses serviços pelo Medicaid – se o estado tivesse um sistema para treinar e certificar pares.

Desde então, "o apoio de pares cresceu vertiginosamente; eu estou nesse campo há 25 anos, e nunca vi nada acontecer tão rápido", disse Larry Davidson, pesquisador de saúde mental em Yale. "Os pares são uma prova viva, respirando, de que a recuperação é possível, de que ela é real."
A prova A é Lambert, um ex-condenado autodidata que está se tornando um reconhecido treinador de pares, dando aulas em Delaware e por todo o país. Ele é um entre um pequeno grupo de pessoas que escolheu contar publicamente como é difícil administrar um diagnóstico duplo severo, incluindo as recaídas que costumam acontecer nesse caso.
"Ele é um exemplo extremo de quanta diferença a paixão e o compromisso podem fazer, levando em conta tudo o que passou", diz Steve Harrington, diretor-executivo da Associação Nacional de pares Especialistas, um grupo dedicado a promover o apoio entre pares na saúde mental.
Lambert, que saiu de um buraco profundo com a ajuda da fé religiosa, medicação e suas próprias formas de autoexpressão, descreve a situação assim: "há muitas pessoas lidando com doenças mentais, drogas, abandono, abuso, e elas não sabem que há uma saída. Eu não sabia. Eu não sabia."
Bean Bean na Cidade Aranha
Sua avó foi a primeira pessoa a chamá-lo de Bean Bean, e o menino era tão magro que não conseguiu se livrar do apelido.
Ele também não conseguia evitar os meninos mais velhos e fortes em Brighton, Portsmouth (Virgínia), e passou parte de sua vida escolar apanhando. Brighton era assim naquela época, e pelo menos essas brigas ensinaram-lhe habilidades de sobrevivência. Nem tudo foi aprendizado: ele foi abusado sexualmente aos 6 anos, por um menino mais velho do bairro – de forma brutal.
Ele não tinha para quem contar, mesmo que soubesse o que dizer. Sua mãe e pai estavam separados, vivendo a quarteirões de distância, ambos figuras constantes na vida social do bairro, nas festas nas casas, frequentadores de lojas de bebidas, jogos de cartas e outras atrações. Sua mãe, chamada Chucky, estava quase sempre fora, e às vezes deixava o menino na casa de uma amiga por "algumas horas" que se transformavam num final de semana inteiro. Durante a maior parte do tempo, ele esperava na porta.

Ele idolatrava o pai, um motorista de caminhão e funcionário de depósito que vivia perto, mas também passava seu tempo livre fora de casa, bebendo e jogando cartas.
"Naquela época eu era alcoólatra, mas eu saía e tentava encontrá-lo quando sabia que ele estava fora", disse o pai, Edward Lambert, numa entrevista recente em sua casa em Brighton. Ele largou a bebida há alguns anos por causa da Igreja, e pai e filho eventualmente se aproximaram.
Mas só depois que o filho começou a marcar território nas ruas, ficando conhecido como um bandido bem sucedido aos 12 anos, uma presença frequente no Palmer´s Corner, lar dos machos alfa pesos-pesados de Brighton – Cidade Aranha, como eles a chamavam. Ele logo entrou nas drogas, primeiro como entregador e depois como traficante local, armado e muito perigoso. Ele começou a usar cada vez mais cocaína, crack de vez em quando, e logo adquiriu outra característica.
"Nós víamos a loucura como uma qualidade estimada, algo a ser admirado, como os brancos admiram a coragem", escreveu Nathan McCall em "Makes Me Wanna Holler", seu livro de memórias de 1994 sobre sua juventude em Portsmouth. "Na verdade, no nosso jeito de pensar, a loucura e a coragem eram a mesma coisa."
O garoto magro cresceu, forte e louco o suficiente para circular com sua bicicleta com uma metralhadora serrada no guidão, parar em frente a um grupo de traficantes e jogar uma sacola vazia no chão na frente deles, com essas instruções: encham isso. Agora.

"Eu atirava com a arma para o ar para mostrar que eu estava falando sério, então pegava as drogas e ia até o próximo grupo de traficantes, e deixava tudo ali", dizia ele. Nessa época, ele era calouro do segundo grau.
Ninguém que estava lá esqueceu isso.
"Chegou ao ponto em que as pessoas, especialmente os traficantes, vigiavam a rua para ver se Bean Bean estava chegando, da mesma forma que vigiam a polícia", disse Henry Maurice Hunt, meio-irmão e colega de armas da época em que ainda vivia no bairro. "Se eles viam Bean chegando na rua, iam embora."
Aquilo não tinha como durar, e não durou. Ele sobreviveu a vários tiroteios, levou uma bala atrás da orelha uma vez (ela ainda está lá), e em outro sofreu uma emboscada por trás e foi atingido nas pernas, braços e na pélvis; essas balas foram todas removidas sem nenhum dano mais grave, exceto pelas cicatrizes proeminentes. Mas a polícia estava atrás dele, e em 1991, aos 21 anos, ele foi para a prisão, condenado a 22 anos por agressão com arma e outras acusações, de acordo com os registros do tribunal de Portsmouth.
Ele não foi um prisioneiro modelo no início. Incitou um protesto numa instituição, depois do qual os guardas o confinaram a uma cela de "segregação", longe dos outros prisioneiros, por quase dois anos. Ele começou a ler lá, a Enciclopédia Britânica, depois Robert Ludlum, James Clavell, Sun Tzu, qualquer coisa que encontrasse.
A curiosidade nutria uma ambição que foi crescendo até que um dia, em 2002, se transformou em convicção.
"Um jovem bandido que eu conhecia do bairro chegou, no primeiro dia de uma sentença de prisão perpétua, colocou as mãos para o alto e disse: ´Ei, cara, estou aqui` – como se estivesse chegando numa festa", disse Lambert. "Aquilo foi o bastante. Eu sabia que precisava sair de lá e ter uma vida, alguma coisa. Eu não sabia o quê, nem como."
Vivendo a sua história
Ele recebeu ajuda, e ela veio na hora certa e de uma fonte inesperada.
Era junho de 2003, e Lambert estava fora da prisão (por bom comportamento) e morando em Virginia Beach, perto de casa, mas não muito. Casado e com filhas, ele estava se tornando particularmente habilidoso na colocação de pisos. Sua vida parecia estar tomando forma, se não ainda uma direção.
Mas as horas de trabalho eram longas, o dinheiro era curto, e uma briga com sua mulher abriu um poço de ressentimento e desespero que parecia não ter fim. Na prisão, ele se lembra, um médico deu-lhe o diagnóstico de depressão e o medicou. Mas o remédio não tinha efeito para ele, e ele decidiu que aquilo era bobagem; que ele conseguia lidar bem consigo mesmo.
E foi então que ele caiu novamente nas ruas de Brighton, dormindo em apartamentos de amigos e se sentindo perdido, instável e desesperado por sua droga favorita. O gosto de metal da cocaína era irresistível, e pelo menos segurava a depressão. Mas seu humor voltava a ficar sombrio, e ele tinha que se drogar de novo.

É assim que quase sempre acontece com quem tem um diagnóstico duplo de adicção e distúrbio de humor, dizem os médicos: um problema inflama o outro, num ciclo que é extremamente difícil de quebrar.
Mas ele logo quebrou, deixando 55 gramas de cocaína e sua pistola na casa de seu meio-irmão numa manhã e indo embora. Por volta das seis da tarde, ele estava indo em direção à Rodovia George Washington, sentindo-se de certa forma com menos esperança do que atrás das grades – quando seu celular tocou. Era sua mãe que agora morava na Califórnia, e ela tinha acabado de ver algo na TV: uma propaganda para o Desafio Adolescente EUA, um programa de recuperação cristão.
Ela deu o número de telefone para ele. Ele anotou, sentou na frente de uma casa e pensou sobre aquilo por um bom tempo, e então telefonou. O homem do outro lado ouviu e ofereceu a isenção da taxa se o jovem se entregasse a Deus. Ele fez o compromisso naquela manhã e desde então costuma ir regularmente à igreja.
"Eu honestamente acredito que a prisão o tirou das ruas antes que ele morresse", disse seu pai, "e Deus fez o resto."
Ele concluiu o programa, em Greensboro, Carolina do Norte, e logo encontrou um emprego num depósito de lá, começando como trabalhador temporário e avançando até assistente de gerente de distribuição. Ele estava limpo, a família estava intacta e, de acordo com seus registros médicos, um terapeuta local prescreveu-lhe lítio, um tratamento padrão para distúrbios de humor severos.

Foi um amigo da igreja que falou para ele sobre o trabalho de apoio, mostrando-lhe um anúncio de pares especialistas numa clínica de saúde mental local, a Envisions of Life, e ele agarrou a chance, aceitando uma redução de salário em troca de alguns casos.
"Ele pegava os piores casos; tinha que ir para essas áreas cheias de gangues, lugares em que ninguém mais ia", disse Sue Bethune, sua chefe na época, que agora é consultora de saúde mental em Greensboro. "Ele de fato abriu as portas para o programa poder mandar pessoas para lá."
O trabalho era exaustivo, e o deixava perigosamente perto de traficantes de cocaína (por isso a recaída, que resultou em acusações por delitos), e as relações em casa ficaram mais uma vez muito desgastadas. Ele começou a pensar mais alto: em treinar pares. Em 2007, ele foi a uma palestra de treinamento de Harrington, o diretor-executivo e fundador da associação de pares.
"Ele fez muitas perguntas que faziam refletir bastante", disse Harrington, hoje estudante de pós-doutorado na Universidade de Boston, numa entrevista. "Quando eu ouvi mais sobre sua história, disse a ele: ´olhe, você pode fazer o que eu faço`."
Eles continuaram em contato, e logo Harrington telefonou para dizer que tinha agendado para Lambert fazer um discurso "de tom" num evento em Michigan. Ele embarcou num avião em Greensboro, sem saber no que estava entrando.
"Eu nem sabia o que ´de tom` significava", disse ele. "achei que eu teria que cantar."
A história tomou vida própria, e as pessoas no público que temiam por seus entes queridos com problemas semelhantes queriam ouvir mais. Pais de todas as classes sociais, médicos, clérigos e colegas de trabalho o puxaram de lado para ver se ele poderia falar com um filho problemático, ou uma filha viciada. Ele se juntou a Harrington para abrir uma empresa, a Recover Resources, que vende manuais para programas de apoio, DVDs e outros materiais educativos. Uma sessão de treinamento em junho, realizada no Centro Psiquiátrico Delaware e conduzida por Lambert, mudou a vida de pelo menos dois dos presentes.
Um era um veterano da marinha de Newark, Delaware, que também tinha problemas com abuso de substâncias e um diagnóstico psiquiátrico.
"Eu soube desde o início que era alguém importante para mim", disse o veterano, Justin Thompson, 28, que desde então concluiu sua certificação de conselheiro sob a supervisão de Lambert e agora trabalha como ex-paciente especialista. Os dois se tornaram amigos próximos. "Eu me identifiquei com ele de cara, com sua paixão, sua história, a energia positiva que ele traz – tudo isso."
Outra foi June Benson, uma mãe solteira de três filhos que teve seus problemas com a lei e uso de drogas. Os dois sentiram uma conexão instantânea e começaram a se falar regularmente por telefone (Lambert estava passando por uma separação na época e está em contato constante com seus próprios filhos.).

"Ele me contou tudo; eram telefonemas caros", disse Benson. "Mas para sair de tudo aqui e ser o homem que ele é hoje, é um milagre."
Ele logo foi contratado pela Clínica Psiquiátrica de Delaware para fornecer serviços de apoio de pares no hospital e começou a falar com a Horizon House/Delaware, uma clínica em Wilmington, para montar uma faculdade para treinar pares especialistas.
Lambert e Benson foram morar juntos em julho e estão noivos.
"Você precisa entender, para mim, agora, o que eu passei, às vezes é difícil acreditar que tudo isso é real", disse Lambert. "Mas eu sei que minha doença mental e meu vício são reais; sinto que eles estão aí nesse momento, exercitando-se, preparando-se para me pegar de novo. É por isso que eu tenho todo o meu sistema para permanecer forte."
O dia-a-dia
Esse sistema é baseado no monitoramento estrito de seus humores, que respondem apenas em parte à medicação. Ele inclui falar consigo mesmo, normalmente no carro ou entre consultas ("Se o carro for parar na parte errada da cidade, eu cairei de novo"); e mímica, que ele faz com um grupo e individualmente, normalmente nas igrejas, com maquiagem, longas túnicas e acompanhamento gospel.
Mas quando Lambert sente que sua mente está naufragando rápido, ele precisa de companhia, normalmente a de Benson ou Thompson.

Ele sente que ele mesmo precisa de um conselheiro, alguém com uma história e que sabe como é – de dentro – ter dificuldades mentais, estar com problemas sérios, e se sentir sem nenhuma opção. Alguém que possa ser um defensor, um companheiro, que possa compartilhar sua história: que possa simplesmente estar ali, é tudo o que é necessário.
Pesquisadores de saúde mental testaram o efeito dos pares numa variedade de contextos durante a última década. Quando eles são “especializados” - ou seja, sua história é semelhante à de seus clientes, da forma como Lambert e outros ensinam – os pares tendem a reduzir a taxa de hospitalizações psiquiátricas e, quando apropriado, aumentam o uso de programas como o Alcóolicos Anônimos.
No fim, não é pelo dinheiro. Em suas viagens como treinador e conselheiro, Lambert leu poemas dos clientes, acompanhou eles nas compras, e às vezes sentou e assistiu um episódio de sua novela favorita. E ele assumiu Thompson como um protegido, um treinador de conselheiros em treinamento.
Para ambos, significa estar a serviços, para seus alunos e um para o outro. Numa manhã de sábado recente, Lambert estava em casa sozinho, assistindo futebol, quando sentiu um pulsar daquela mesma escuridão e exaustão que o levou à última recaída.

"Eu chamo isso de monstro", diz ele. "Eu estava deitado no sofá e, depois de um tempo, o futebol é que estava me assistindo."
Ele telefonou para Thompson, que correu para lá com um par de varas de pescar. Os dois pescaram naquela tarde. Pescaram e fumara e não falaram sobre muita coisa, e nenhum deles pode dizer exatamente quando foi que aconteceu. O monstro tinha ido embora.


Tradução: Eloise De Vylder
Fontes:
UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

quinta-feira, 1 de março de 2012