Pode-se dizer que vem em boa hora o plano do governo de combate ao crack? Talvez seja mais adequada a afirmação de que vem com atraso. Mais: vem acompanhado de certo ceticismo. A descrença tem fundamento. Ações ora anunciadas figuram em promessas anteriores que caíram no esquecimento ou não receberam a atenção necessária. É o caso da criação de consultórios de rua, em que equipes de saúde vão aos locais onde se encontram os usuários, e a construção de centros de atenção psicossocial (Caps), que veio à luz em junho no Plano Emergencial de Drogas.
O descaso cobra alto custo. Talvez nenhuma droga tenha as potencialidades malignas do crack. Subproduto da cocaína, a substância psicoativa é capaz de viciar no primeiro contato. Segundo estimativas do Ministério da Saúde, o país contabiliza 600 mil usuários. As grandes vítimas são os jovens, cuja curiosidade os torna vulneráveis ao assédio de traficantes ou de dependentes que vendem o entorpecente para alimentar o próprio vício. Antes restrito a consumidor mais pobre, o alucinógeno chegou à classe média com velocidade assustadora.
A explosão do consumo fica patente nos números. Em um ano (de 2008 a 2009), a apreensão da droga pela Polícia Federal cresceu em proporção geométrica de 500kg a 4.500kg. O fato levou à inclusão do tema no debate eleitoral. A dimensão da tragédia é tal que se espera não ter sido a proximidade das urnas a motivar a nova mobilização do governo. As propostas, que começaram a ser debatidas em 9 de abril, miram três metas: a prevenção, o tratamento e a repressão ao tráfico.
O desafio é enorme. Em primeiro lugar, porque faltam políticas públicas abrangentes de tratamento. A saúde pública, sem trabalhos científicos aptos a comparar as drogas e selecionar as mais eficientes para enfrentar a dependência, aposta no ensaio e erro no socorro ao craqueiro. Não há mais tempo a perder. É importante avançar no combate ao mal. Não devem ser poupados esforços para evitar que a catástrofe se alastre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário