terça-feira, 23 de março de 2010

Uma droga que não tem nada de santa

O assassinato do cartunista Glauco Vilas Boas, de 53 anos, e de seu filho Raoni Ornellas Vilas Boas, de 25, por Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, de 24, no dia 12 de março, pôs na berlinda o uso de uma bebida alucinógena, chamada de Santo Daime, usada em rituais que misturam elementos cristãos e pagãos, e que é tomada regularmente por milhares de pessoas no país. Carlos, que apresentava sintomas de esquizofrenia, tomava a bebida regularmente há três anos, justamente na igreja criada pelo cartunista, a Céu de Maria, que funcionava em Osasco, na região metropolitana de São Paulo. No dia do assassinato, se dizia a reencarnação de Jesus Cristo.

O Rio de Janeiro, que se tornou um dos principais pólos do consumo da bebida em todo o país, conheceu a doutrina do Daime em 1982, através do psicólogo Paulo Roberto Silva e Souza. Aproximadamente 200 pessoas frequentam periodicamente os encontros da Igreja Ceú do Mar, localizada em São Conrado (Zona Sul). Somente na comunidade da igreja no Orkut (site de relacionamentos) existem aproximadamente 1.500 membros.

Um soldado da Marinha brasileira, de 25 anos, que preferiu não se identificar por temer sofrer retaliações, mesmo considerando a instituição liberal, contou como foi apresentado ao Daime. De acordo com o militar, que afirmou jamais ter consumido algum tipo de droga, aos cinco anos de idade sua mãe o levou a um culto e ele bebeu o chá de Santo Daime.

– Desde novo, essa é minha válvula de escape. Jamais apresentei algum tipo de sintoma ou problema. Já vi muita gente que foi livrada de vícios pelo Daime, deixando de beber e até cheirar cocaína – disse ele, que acredita que o chá de Santo Daime não teve nenhuma influência no assassinato de Glauco, apesar de ter confessado ficar nervoso e tenso após mais de três semanas sem tomar a bebida.

O dono de uma loja, que frequenta cultos do Santo Daime na Flor da Montanha, em Friburgo, Região Serrana do estado, esclareceu que a ingestão da bebida é uma forma de atingir “níveis mais altos de reflexão”.

– Sob efeito do chá, penso em coisas que jamais passariam pela minha cabeça. É uma forma de refletir sobre meus atos e agradecer pela minha vida – divagou.

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