Aprisionado. É assim que se sente um coração que tem tanto para dar, e nada de bom à receber. Quando alguém se perde e não acha a saída, vê que não há mais nada a perder, afinal, de qualquer jeito o caminho é impossível, ou difícil demais para ser alcançado. Mas fazer o bem quando não há nada para receber é atitude de um coração nobre e puro, por menor que seja . Ontem (21), às 20:45, eu vi um desses corações cativos, e ver esse lado nobre de alguém que vive como a escória, foi uma antítese guardada em um gesto. Indiferente ao movimento de pessoas e carros que naquele horário passavam pela Avenida Brasil, um usuário de crack, de nome não revelado mostrou como uma doença , que é o vício, pode comprometer uma vida inteira, um futuro que poderia ter um rumo diferente.
Em agradecimento à batalha que tenho travado há muito tempo contra as drogas, um singelo presente veio como um abraço triste, um desabafo, um "muito obrigado", de alguém que há muito tempo não sabe o que é viver dignamente, o que parece ser seu sonho. Eu recebi desse rapaz, um carrinho, sujo de barro, tão simples como ele e o que seu olhar feliz demonstrava ao me dar o brinquedo.
Se existir apenas uma chance de salvar alguém que está caindo, que seja salvo por uma ponta sequer, pois talvez ele mesmo tenha se levado pra esse caminho, mas se há vontade de subir novamente, e respirar , não devemos privar o direito de alguém que deseja novamente ter sonhos, e não pesadelos. Sonhos estes, que começam a se realizar em um pequeno gesto, assim como fez esse rapaz que em alguns minutos abriu seu coração , podem se realizar. Sonhar como qualquer outro pode ser um enorme presente, um tão grande quanto aquele que recebi ontem.
Com certeza, este jovem é mais uma vítima do terrível tráfico de drogas que se alimenta da fraqueza, das dificuldades, das decepções de pessoas e familiares que buscam nas drogas um falso refúgio.
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